Dor da Alma

– Estou com preguiça. De ver gente, de ir ao bar lidar com pessoas de bar.
Preguiça de ligar. De falar “alô” e ter que processar tudo o que a pessoa vomitar do outro lado da linha. Estou com preguiça da minha preguiça. De me sentir cansado. Derrotado. Queria entrar no mar e ir bem lá no fundo pra ele me lembrar que é mais forte que eu. E que ele sim não tem preguiça. Preguiça das pessoas de ônibus. Do cara do carro ao lado conversando com a namorada do lado da criança feia e barulhenta. Do banco da frente. Da serra. Das curvas da estrada de Santos. Preguiça de ter memória.
A dor da alma não se compartilha. E não passa. É atemporal. Não diminui com a idade.
Vem como a mão do demônio passando pelo peito e espremendo tudo lá dentro.
Ela te vence e sempre, sempre se supera. Você acha que se conhece. Acha que nunca mais. Mas ela te conhece mais ainda. Você envelhece e ela fica sofisticada. Essa maldita dor da alma nunca vai me dar paz. Essa maldita dor da alma sempre quer me vencer. É como uma máquina de tatuagem persistente e sanguinária que a gente tenta ignorar, mas sabe que ela está ali te rasgando e descaralhando a sua vida.
Insistindo em te mostrar que você não é forte. Mas da mesma maneira que a dor da tatuagem te deixa uma marca bonita, a dor da alma te faz saber que você tem alma. E isso já me faz erguer discretamente um pequeno sorriso no canto do lábio. Porque enquanto essa dor desgraçada me acompanhar, pelo menos eu sei que estou vivo.


2011, Apud Nene Altro - Autor e cantautor paulista 

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